quarta-feira, 19 de maio de 2010

Poema Professor

Professor!

O mestre que ensina
Que forma e que informa
Que lida com o novo
Incentiva os alunos a aprender
O sábio! Que busca conhecimento
Dele depende todos os profissionais
Desde o início até o final
Participa do sucesso do mundo

O educador que trabalha opiniões
Que visa um grande universo
Que se preocupa com formalidades
Quer ver resultados de sua missão

O batalhador de todos os dias
O criador das artes e da cultura
Que vive e convive na parceria
Construindo a melhoria do amanhã

A escola é teu espaço
Os alunos tua plateia
Você é o grande maestro
Desta orquestra chamada vida.


de Maria de Fátima Lúcia Santana
Itarema - CE - por correio eletrônico

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Navegar a deriva

Navegação à deriva



Quem navega à deriva
sabe que há vida além dos mares nos mapas
além das bússolas, astrolábios, diários de bordo
além das lendas dos monstros marinhos, dos mitos
quem navega à deriva
acredita que há nos mares miragens, portos
inesperados, ilhas flutuantes, botes e salva-vidas
água potável, aves voando sobre terra, vertigem
quem navega à deriva
aprende que há mares dentro do mar à vista
profundidade secreta, origem do mundo, poesia
escrita cifrada à espera de quem lhe dê sentido
quem navega à deriva
se perde da costa, do farol na torre, dos olhares
atentos, dos radares, das cartas de navegação
imigra para mares de imprevista dicção.


Marcus Vinicius



“Navegação à deriva” está no livro Manual de instruções para cegos,
editado pela 7 Letras, de Juiz de Fora, Minas Gerais, e ganhou o Prêmio Cidade
de Juiz de Fora de Literatura, da FUNALFA

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Os filhos da Era Digital


Como o uso do computador está transformando a cabeça das crianças – e como protegê-las das ameaças da internet
Gustavo Neno Altman é tão fanático por futebol que em seu aparelho dentário há um escudo do Corinthians gravado. Aos 9 anos, joga bola com os amigos, é assinante de um jornal esportivo, freqüenta estádios com o pai e tem um blog sobre futebol na internet. Todos os dias, ele lê os cadernos esportivos e resume em seu blog as notícias que o interessam. “Dá um trabalhão”, diz. “Mas não imagino minha vida sem internet.” Gustavo faz parte de uma geração que nasceu com o computador em casa: os “nativos digitais”. O termo foi cunhado pelo educador americano Marc Prensky, autor do artigo “Digital natives, digital immigrants” (“Nativos digitais, imigrantes digitais”), em que faz uma divisão entre aqueles que vêem o computador como novidade e os que não imaginam a vida antes dele. O artigo, de 2001, é um dos mais citados em publicações da área de educação, de acordo com o Instituto para a Informação Científica dos Estados Unidos.
Antes do artigo de Prensky, não havia um termo que definisse a geração que cresce imersa na tecnologia. Autor do livro Digital Game-Based Learning (Aprendizagem Baseada em Jogos Digitais) e criador de mais de cem games, ele afirma que as ferramentas eletrônicas são como extensões do cérebro dessas crianças. Elas fazem amigos pela rede, conhecem o mundo pelos buscadores, desenvolvem habilidades por meio de videogames, criam páginas pessoais em fotologs, blogs e sites de relacionamento. Além de navegar na internet, são capazes de operar outros aparelhos eletrônicos com muita facilidade, como celulares, iPods, controles remotos de DVD e TV, às vezes vários ao mesmo tempo. “Eles migram de um software para outro, como se trocassem a gangorra pelo balanço”, afirmou Prensky a ÉPOCA. Os “imigrantes”, de acordo com ele, são os que assistiram ao nascimento da internet e se adaptaram a ela. Ainda se lembram das primeiras conexões, quando a linha telefônica costumava cair, e normalmente não confiam na memória do computador a ponto de dispensar o papel. Apesar de acessar a rede com desenvoltura, os imigrantes preferem ler um artigo impresso. “É como mudar de país. As pessoas ficam até íntimas com o novo idioma, mas não perdem o sotaque.”
Os nativos digitais têm contato com a tecnologia logo após o nascimento. Crianças com menos de 2 anos já se sentem atraídas por vídeos e fotos digitais. A intimidade com o computador, porém, costuma chegar aos 4 anos. Nessa idade, já deslizam o mouse olhando apenas para o cursor na tela. Aos 5, reconhecem ícones, sabem como abrir um software e começam a se interessar pelos primeiros jogos virtuais, como os de associação ou de memória. Claro que, como em qualquer outra atividade, a desenvoltura nas telas variará de criança para criança. Aos 7, é a hora do primeiro grande marco tecnológico na vida dos nativos: eles criam um e-mail, a identidade para quem navega no mundo virtual. Em pouco tempo, a criança é capaz de “adicionar” – como se diz na linguagem da internet – uma série de amigos virtuais em sites de relacionamento. Aos 6 anos, Maria Eduarda Inácio criou sua página no Orkut antes mesmo de saber escrever o próprio nome. A pequena catarinense queria ter um álbum de fotos digitais que pudesse ser visto na casa da avó e das amigas. Em vez de um fotolog, Maria Eduarda pediu que a mãe criasse uma página no Orkut para ela. Os pais já eram usuários do maior site de relacionamento do Brasil. Maria Eduarda, hoje com 7 anos e quase alfabetizada, se interessa por grupos de afinidade – ela participa de comunidades. A mãe, Vanessa Cristina de Souza, de 23 anos, continua a escrever para ela no computador. Em uma dessas comunidades, “Duda não! Maria Eduarda”, a menina se agregou a outras 1.232 Marias Eduardas que, como ela, não gostam de ter o nome abreviado. Maria Eduarda também brinca de boneca no computador. Ela prefere a boneca virtual porque, segundo ela, “a de verdade não tem um guarda-roupa cheio de roupas cor-de-rosa e brilho – iguais às da Barbie”. A psicóloga Rosa Maria Farah, do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática (NPPI), da PUC de São Paulo, afirma que é bom a mãe estar sempre com a menina no computador, como é o caso de Maria Eduarda. “Nessa idade, é preciso ter cuidado em apresentar à criança não mais do que ela está preparada para receber.” Rosa Maria é uma das autoras do recém-lançado livro Relacionamentos na Era Digital (ed. Giz Editorial), uma coletânea de artigos de psicólogos. Eles foram unânimes em dizer que essa nova geração articula idéias de forma mais rápida e abandonou a lógica linear, com começo, meio e fim.
No Brasil, de acordo com uma pesquisa do Ibope/NetRatings de fevereiro, dos 32,1 milhões de internautas brasileiros, 1,35 milhão são crianças na faixa entre 6 e 11 anos. Nos últimos dois anos, esse número cresceu em 462 mil, e a tendência é que aumente muito, com a entrada de novos nativos digitais nessa estatística. Nos Estados Unidos, cerca de 90% da população entre 2 e 15 anos usa computadores. Os educadores dizem que não há mais como o PC não fazer parte do cotidiano dessa garotada. Eles afirmam que tantos os jogos lúdicos quanto os softwares educacionais podem ser benéficos, porque auxiliam no raciocínio e, conseqüentemente, na evolução mental. Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, publicaram no ano passado um estudo com alunos de escolas públicas americanas no qual concluem que o rendimento escolar dos alunos que usam computadores para pesquisas e jogos educativos subiu de 72% para 79%. No Brasil, a professora Maria Teresa Freitas, coordenadora do Grupo de Pesquisa e Linguagem da Universidade Federal de Juiz de Fora, que estuda a escrita dos adolescentes na internet, afirma que eles “lêem e estudam mais com a rede”. Para ela, os blogs, os diários virtuais, também são boas ferramentas para a escrita. A professora afirma que as conversas nos chats – espaço para os papos virtuais – contribuem para o pensamento crítico e ajudam a desenvolver uma melhor argumentação. Quando s as crianças discutem um livro ou uma música pelo chat, são obrigadas a pensar no assunto e explicá-lo de forma rápida. Segundo pesquisa do Centro de Integração Empresa-Escola, 64,8% dos alunos do ensino médio usam a rede para ler e-mails, 64,1% para trabalhos escolares e 57% têm página no Orkut. A menina Jade Souza, de 9 anos, está entre as crianças que usam a internet para fazer lições de casa. Recentemente, ela aprendeu sobre reciclagem, quando fazia uma pesquisa sobre esse tema na rede. “Descobri que a natureza está sofrendo muito por causa do lixo”, diz Jade. Depois da descoberta, ela pediu à mãe que evitasse sacolas de plástico e fizesse a reciclagem das embalagens de leite e iogurte.
As pesquisas com resultados positivos não significam que a internet seja uma solução mágica para as dificuldades escolares das crianças. Nem que seja adequado privilegiar o mundo virtual em detrimento do aprendizado tradicional. Hoje as crianças são alfabetizadas, ao mesmo tempo, na linguagem digital e na analógica. Na rede, os nativos digitais se comunicam com uma linguagem própria, derivada do português e repleta de gírias e abreviações, como o “naum” que significa não. Na hora de fazer tarefas ou exames escolares, as crianças entrevistadas por ÉPOCA admitiram adotar, às vezes, as abreviações usadas na internet, como pq em vez de porque, nas provas escolares. Todas disseram, porém, que os professores não aceitam essas abreviações. Mas não foi só a linguagem que mudou. De acordo com um estudo publicado em agosto deste ano pelo Berkman Center for Internet & Society, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, as novas tecnologias modificaram a maneira como as crianças aprendem. Na época dos “imigrantes”, a lógica era ter começo, meio e fim, porque era assim que as informações chegavam aos pequenos leitores de enciclopédias e livros didáticos. Não mais. Como hoje a principal fonte de informação é a internet, os assuntos nunca estão isolados, e sim ligados a temas correlatos. Cabe ao nativo digital escolher quando termina sua busca.
A internet é cheia de hiperlinks, as janelas sem fim. Um site remete a outro, e assim sucessivamente. Ao contrário do que alguns educadores pensavam, as crianças fascinadas com o mundo virtual não se perdem nos sites de buscas. “Os nativos não se surpreendem com a imensidão da rede. Eles sabem que ela é quase infinita e, por isso, não abrem o espectro mais do que precisam”, diz Agnaldo Arroio, do Departamento de Ensino e Formação de Professores da USP. Junto com a facilidade de lidar com vários aparelhos eletrônicos ao mesmo tempo, a relação com o computador transforma a mente das crianças. “O reflexo disso é um cérebro cheio de conexões, ativado por várias partes que realizam tarefas aparentemente simples”, diz Geraldo Possendoro, especialista em Neurociências e Comportamento da Universidade Federal de São Paulo. Um dos maiores impactos no modo de pensar são os videogames. Neles, “o fator mais importante na hora de responder é a velocidade”, diz Possendoro. Para não perder o jogo, a criança precisa ser rápida na avaliação das opções que tem e tomar uma decisão certeira. Se bobeia, perde o jogo. Essa análise instantânea das informações faz com que ela desenvolva maior capacidade cognitiva. Mas a velocidade carrega um efeito potencialmente ruim, de acordo com Claudemir Viana, do Laboratório de Pesquisa sobre Criança, Imaginário e Televisão da Universidade de São Paulo. “Elas podem perder a reflexão”, diz. As crianças também se tornaram mais sintéticas. De certa forma, impacientes com quem não tem as mesmas habilidades que elas na internet. “A garotada não consegue entender como a gente faz o caminho mais longo em vez de usar os atalhos”, diz Arroio, da USP. Eles têm dificuldades para assimilar a tecnologia superada. “O sistema operacional DOS, o primeiro usado em computadores domésticos pelos “imigrantes”, soa como um bicho-de-sete-cabeças para eles”, afirma Marc Prensky.
A internet tem um papel diferente para meninos e meninas na pré-adolescência. Aos 10 anos, as meninas já estão interessadas em conhecer outras crianças, enquanto os meninos dão prioridade aos jogos competitivos. “Elas vão para os blogs e eles para os games”, diz a psicóloga Andréa Jotta Ribeiro, da PUC-SP, que estuda a relação de crianças com as novas mídias. Quando entram na internet, a rede passa a ser um dos principais canais onde eles buscam aceitação. Nas comunidades, devido às afinidades cibernéticas, os nativos digitais se relacionam com garotos de outros países, tendo acesso a outras culturas e costumes. Foi o que aconteceu com Guilherme Moura Ignácio, de 9 anos. Logo que foi alfabetizado, ele criou um endereço eletrônico no Google e passou a usar o Messenger. Hoje, Guilherme faz amigos estrangeiros, mesmo sem falar o idioma deles. “Eu ainda não sei falar inglês. Mas, no jogo, a gente não precisa saber a língua do outro para se entender”, afirma. Guilherme entra em sites internacionais à procura de vídeos que dão dicas para “capturar personagens”, como os do desenho animado Pokémon. Ele às vezes pede ajuda ao irmão, Frederico, de 11 anos, fã do videogame Wii e de literatura juvenil com temas mitológicos. “Hoje as crianças não ligam para a distância geográfica. Na verdade, elas não suportam a barreira digital”, diz Pierre Lévy, filósofo e pesquisador na área de inteligência coletiva na Universidade de Ottawa, no Canadá. Autor de uma dezena de livros sobre o mundo virtual e consultor de vários governos sobre cibernética, ele afirma que “para as crianças estar no mundo é estar conectado. E isso dá uma sensação de tranqüilidade”.
Se no mundo real os grupos só se formam depois da empatia e da amizade, no virtual os meninos e meninas primeiro optam por integrar a mesma comunidade, e só depois passam a se conhecer melhor. Para os nativos, a rede é o meio de comunicação mais usado, seja com o pai e a mãe, seja com crianças desconhecidas, como eventuais parceiros de videogame. Será saudável uma criança ter esses relacionamentos virtuais? Dá para confiar num amigo se você nunca o viu? As comunidades são infinitas e se ampliam à medida que aumentam os interesses das crianças. Elas estão numa idade em que desejam fazer parte das turmas, ser aceitas. O pesquisador canadense Lévy afirma que uma criança de 12 anos chega a ter mais de 200 amigos em sites de relacionamento. Ele alerta sobre o fato de que cerca de 30% delas não conhecem a verdadeira identidade desse amigo. Lévy acredita que manter relações virtuais “é inevitável no mundo digital”. Isso não pode ser considerado bom ou ruim. “Tudo vai depender da forma como acontece na vida desses garotos”, diz. Algumas crianças encontram na internet o ambiente perfeito para novas experiências. Pode ser uma primeira declaração de amor, falar sobre o primeiro beijo ou escrever mensagens bonitas para conquistar o garoto ou a garota. Na rede, fora da vista do outro, é comum que as crianças consigam dizer o que não têm coragem de declarar pessoalmente.
Uma preocupação constante dos pais são os sites de pornografia e os pedófilos que conseguem se infiltrar nas comunidades, às vezes se passando por crianças. O Instituto WCF-Brasil (Childhood Brasil), patrocinado pela rainha Silvia, da Suécia, acaba de lançar a cartilha Navegar com Segurança, que orienta os pais sobre como evitar que seus filhos caiam na rede da pedofilia. A brochura, que está sendo lançada em todo o país, faz parte da campanha Só um Adulto Identifica um Pedófilo. Pais, Saibam o Que seus Filhos Andam Vendo na Internet. Os educadores recomendam a supervisão intensiva das crianças. “Eles podem procurar a s palavra leão e aparecer um site de pornografia”, diz o educador Júlio Groppa Aquino, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Pais que não têm como acompanhar de perto o acesso de seus filhos à internet devem estabelecer regras claras para o uso do computador (leia o quadro). O Manual da Criança Tecnológica, da organização não-governamental nova-iorquina Center for Children and Technology (Centro para Crianças e Tecnologia), recomenda que os pequenos internautas não fiquem mais de duas horas em frente a um computador.
O pediatra Fábio Ancona Lopez afirma que uma maneira de fiscalizar melhor o filho é deixar o computador em uma área de acesso em comum, e não no quarto da criança. Isabella Marti, de 7 anos, usa o computador que está no escritório dos pais, e apenas uma hora por dia. O pediatra também faz outro alerta. Ele diz que alguns pais usam o computador como a babá eletrônica do século XXI, como antes era feito com a televisão. Para manter a criança ocupada, pai e mãe incentivam o uso da internet. Isso pode gerar o vício no computador, que leva a criança a substituir as relações de carne e osso pelas virtuais. “É bom ficar de olho se a criança passa a se interessar mais pelo amiguinho virtual que pela turma da escola ou da rua”, diz Ancona Lopez. Estimulá-la a participar de atividades em grupo, como esportes coletivos, pode ajudar a impedir a solidão cibernética. “A rede também é um dos espaços para a solidão. Muitas vezes a navegação é uma fuga da realidade”, diz Andréa, da PUC.


Texto tirado de:


http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG78998-6014-486,00-OS+FILHOS+DA+ERA+DIGITAL.html